terça-feira, 18 de maio de 2010

Silenciosamente

No silêncio é a preparação da chegada, no silêncio se dá a partida. Entre um extremo e outro, dores, risos, amores, sorrisos. Esperanças e desencantos. Fé. Ouve-se no silêncio. Medita-se, pondera-se com as vozes de dentro – mais cálida uma, mais sábia a outra. Uma intui, a outra empurra. Silêncio e vozes andam juntos. Indagados, confidenciam sobre o fim.

Como viajantes cegos e surdos, erramos. Celebramos vitórias, choramos derrotas. Trazemos o cacoete de querer para sempre guardar conquistas, amores, valores. Dissimulados, manipulamos. Do fim queremos que nos leve as dores, mas nos deixe os amores. Nos leve o pranto, mas não o encanto e o riso. Que ele se apresse em nos tirar a tristeza, pois é a alegria que desejamos abraçar.

Esperamos, projetamos e prometemos. Amamos e odiamos, primeiro no silêncio. É dele que sonhamos parceria para nossos segredos e misérias. É também o silêncio que queremos ver amordaçar nossos vizinhos e nossos cúmplices. E liberar gargantas para nossas honrarias e vitórias. Pouca coisa se quebra tanto e tão amiúde quanto o silêncio. Frágil como a fortaleza de nosso orgulho, quando é silêncio de sabedoria; duríssimo, quando é silêncio de omissão.

Exceto um grand finale – que, precedido de fanfarras, quase sempre é teatral e previsível – há mímica em verdadeiro fim. Acenos. Invisível, o fim emite sinais. Sempre singular, não é fins nem é finais. Não tem a eloquência do silêncio. Não confidencia. Contudo, entendemo-nos. Inevitável nas finitudes do mundo, depois dele só o que se ouviu dizer, o que se intuiu. O que se ignorou e o que se esperou. Fim bom deixa saudade, e ruim deixa alívio. Acenos da prudência e da dignidade sinalizam que esperemos o fim, ao invés de nos precipitarmos ao seu encontro. Adiemo-lo, se nos convém saber mais sobre nós e sobre ele. Tomemos, por exemplo, um atalho, se o que vem de lá é o fim da estrada.

E se um dia nos surgirem daqueles fins de jeito tímido, inseguro – na verdade, um finzinho – então será conveniente que os analisemos bem. Pois quando menos se espera eles nos pregam uma peça e voltam, travestidos de recomeço.

Silenciosamente.

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